Trilhamos um caminho em que nos deparamos com inúmeros tipos de músicas. O fato dessas capturas de imagens, sons e timbres aparecerem de forma bem eclética nos glorifica com a diversidade da arte sonora da Amazônia ocidental. Diversidade essa que inclui músicas Baníwa, cantos Desana, bandas de música popular, como a Marupiara, de seu Ademarzinho de São Gabriel da Cachoeira, e todo o instrumental do alto rio Negro. Também tivemos a oportunidade de registrar em Roraima o consagrado poeta Eliakin Rufino e outros ritmos dos Macuxi, Wapichana e Taurepang, destaque para as danças Parixara. O nosso foco, portanto, foi a música em todas as formas que tivemos a oportunidade de conhecer nessa viagem que ocorreu no início do ano de 2013.

Roraima – A viagem para Roraima foi realizada em Abril de 2013. Percorremos alguns municípios, como Boa Vista, Cantá e Alto Alegre. Fomos até a fronteira do Brasil com a Venezuela. A primeira parada foi em Boa Vista, caital do estado de Roraima, lugar onde firmamos parcerias e conseguimos preciosas informações para chegarmos até as comunidades desejadas. No total, nessa etapa da expedição, visitamos cinco comunidades.

A primeira comunidade que passamos foi o Boqueirão, no Município de Alto Alegre. Fomos lá para a captação em audiovisual de uma performance de Parixara da etnia Macuxi. O nome do grupo de dança era Tukuí. Tukuí nos foi traduzido como beija-flor, além disso existe um gênero musical que é dominado pelos Macuxi e Taurepang, ao passo que os Wapichana não cultivam tal música, somente o Parixara. O Parixara é compartilhado por todos esses.

Em outra oportunidade, conseguimos falar com Eliakin Rufino, o poeta, como é conhecido em Boa Vista. O Eliakin possui músicas, em parceria com os colegas do movimento Roraimeira, Neuber Uchôa e Zeca Preto, músicas tombadas pelo estado como patrimônio imaterial. Essas músicas são responsáveis pela formação do estado de Roraima na vida de seus cidadãos.

Já no dia seguinte fomos para o Barro Vermelho, lugar onde nos encontramos com José Aristo de Sousa. Ele cantou fortemente algumas canções intituladas Tukuí, Parixara e Areruya. Esses cantos também foram gravados por Koch-Grünberg em 1912, em cilindros de cera.

Seguimos para a Malacacheta, comunidade próxima do Barro Vermelho. Lá gravamos outro Parixara, em um dia de sol bem forte. Fomos muito bem recebido pela professora Waléria Ambrósio, que nos apresentou a maior roda de Parixara que pudemos registrar em nossa expedição de 2013.

Gravamos também com Mike Guy Bras e sua filha Lioenella , cantores de Reggae que vivem em Boa vista. Mike nos cantou uma música que representa um modo de vida muito comum entre fronteiras, o de Camelô. É sempre bom ver Mike cantar nas ruas do centro das cidades de Boa Vista e Manaus.

Também tivemos a oportunidade de conhecermos o Canaunim. Fomos muito bem recebidos pelo professor Rivanildo Cadete Fidelis. A comunidade fica localizada no Município de Cantá. Lá registramos o Parichara Wapichana do grupo Kanaw’ wa’ u san nau e o Forrorichara, sincretismo musical sistematizado pelo grupo.

Depois de termos percorrido quatro comunidades de Roraima, decidimos cruzar a fronteira e ir até Venezuela. Passando de Santa Helena, existe um lugar chamado São Francisco. A partir desse momento mergulhamos de fato na mistura de artes, idiomas e culturas. Compreendemos que existe muita diversidade pelo mundo a fora. Jeremias Cliffe, mais conhecido como Rapemon nos mostrou um pouco do seu talento como cantor de rap e reggeaton . Ele dançou com apetrechos indígenas e cantou músicas sob bases de hip-hop. Seu nome tem uma referência política forte. Rapemon é sigla para Revolução Pemon. Sua irmã Arlis Cliffe tocou violão e cantou música de teor cristão.

Seguimos até Kumarakapay e conhecemos uma cachoeira chamada Woy-merú. Jaime Rodrigues, nosso guia na região, nos apresentou o grupo de dança Wadaka que cantou e dançou Parixara e Tukui Taurepang em um lugar paradisíaco.